Vontade de Potência (alemão: "Der Wille zur Macht") é um
conceito da filosofia de Friedrich Nietzsche.
Em Nietzsche, o seu mais importante conceito permeia as mais altas
e baixas esferas da existência, estando como conceito cosmogônico e mesmo
histórico ou psicológico. A vontade de poder não é somente a essência, mas uma
necessidade.
A argumentação que se segue encontra-se em sua forma original em
“Eterno retorno” (textos de 1881).
Primeira proposição: o total da força que existe no universo é determinado,
não infinita. Deduz-se que o número de situações, combinações dessa força é
mensurável, ou seja, também determinada e finita.
Segunda proposição: o tempo é infinito, e antes deste momento houve
uma infinidade de tempo.
Estas preposições e suas conclusões partem de um raciocínio simples
até seu mais alto grau de complexidade, só atingido em Nietzsche. Ao não
admitir a existência de Deus, do criador, admite-se que a matéria, a energia da
qual é constituída o universo não pode ter sido criada. Logo ela tem de existir
originalmente e sempre, ou então há que se retornar à teoria da criação do
nada. Se ela existe não-criada ela tem de ter estado aqui desde sempre. Já que
ela existe desde sempre, se houvesse tendência ou estado a ser atingido, a
eternidade é certamente tempo o bastante para que a tivesse atingido.
A força que hoje existe tem de ter estado eternamente ativa e
igual, ou então teria extinguido. Todos os desenvolvimentos possíveis têm de já
ter acontecido, e todos os instantes são eternas repetições.
Ainda, que não existe estado de repouso, pois se as forças estão um
tempo infinito para trás em atividade, se este estado (de repouso) fosse
possível já teria sido alcançado e duraria.
Este mundo das forças é circular na medida em que retorna, e sem
nenhuma tendência, senão já a teria alcançado.
Da noção então de algo originário, nunca em repouso, mas em
constante devir*, da consideração de que o mundo das forças não é passível de
cessação, ou equilíbrio, ou repouso, de sua grandeza de força e movimento em
cada tempo e de sua extensão ao todo se começa a divisar a vontade de poder.
Nietzsche afirma nos textos de 1881: “E sabeis... o que é pra mim o
mundo”?... Este mundo: uma monstruosidade de força, sem princípio, sem fim, uma
firme, brônzea grandeza de força... uma economia sem despesas e perdas, mas
também sem acréscimos, ou rendimento,... mas antes como força ao mesmo tempo um
e múltiplo,... eternamente mudando, eternamente recorrentes... partindo do mais
simples ao mais múltiplo, do quieto, mais rígido, mais frio, ao mais ardente,
mais selvagem, mais contraditório consigo mesmo, e depois outra vez... esse meu
mundo dionisíaco do eternamente-criar-a-si-próprio, do eternamente-destruir-a-si-próprio,
sem alvo, sem vontade... Esse mundo é a vontade de potência — e nada além
disso! E também vós próprios sois essa vontade de potência — e nada além disso!
Usando a própria terminologia de Nietzsche a Vontade de Poder é uma
lei originária, sem exceção nem transgressão. Ao falar assim o filósofo quer
dizer que a Vontade de potência não é algo criado, ou que dependa de condições
especiais, como na religião ou em teorias precedentes, mas ela advém da própria
realidade das coisas.
Sendo as preposições (matéria finita, constante e sem tendência e
tempo infinito) um fato e do mesmo modo o devir, a certeza de que há este
fluxo, a força que alavanca e mantém esta economia tem uma natureza particular,
que é a vontade de poder. Por isso é dito "Esse mundo é a vontade de
potência".
Da não aceitação da criação a possibilidade para a existência é
esta. E da necessidade de que tudo seja como é. Esta força que hoje existe só
pode ser afirmada através de sua natureza. Vontade de Potência, não é nada de
teológico, de fim, ou fundamento verdadeiro. É o modo como se comporta aquilo
que não pode ter finalidade ou sentido e que vive a expensas de si mesmo.
Nietzsche mesmo adverte que “ a vontade de poder não é nem um ser, nem um
devir, é um pathos”.
Pathos está aqui no seu sentido que emprega Descartes, de que
"tudo o que se faz ou acontece de novo é geralmente chamado (pelos
filósofos) de pathos. E se o conceito está ligado a padecer, pois o que é
passivo de um acontecimento, padece deste mesmo. Portanto, não existe pathos
senão na mobilidade, na imperfeição."
Vontade de Poder não está desta forma relacionada a nenhum tipo de
força física, dinâmica ou outra, mas é a lei originária que regem estas forças
secundárias na economia deste sistema chamado universo, ou mundo.
A vontade de poder, portanto, é esta lei originária, sem exceção
nem transgressão que em si anima e é a própria essência de toda a realidade. É
a essência e a própria “luta das forças” que formam a economia universal,
impulso que reage e resiste no interior das forças, uma multiplicidade de
forças que em suas gradações se manifesta na sua forma última em fenômenos
políticos, culturais, astronômicos, permeando a natureza e o próprio homem.
*Devir é um conceito filosófico que qualifica a mudança constante,
a perenidade de algo ou alguém. Surgiu primeiro em Heráclito e em seus
seguidores; o devir é exemplificado pelas águas de um rio, “que continua o
mesmo, a despeito de suas águas continuamente mudarem.” Recebe também a acepção
nietzscheriana do "torna-te quem tu és", usada em um dos seus
escritos. Traduz-se de forma mais literal a eterna mudança do ontem ser
diferente do hoje, nas palavras de Heráclito: “O mesmo homem não
pode atravessar o mesmo rio, porque o homem de ontem não é o mesmo homem, nem o
rio de ontem é o mesmo do hoje” (Heráclito).
Devir: é a mudança
constante de tudo que existe, Hora é hora, não é.
Fonte: Wikipédia
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