segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Em busca do Cristo histórico

A Igreja serviu-se de farta documentação, com intenção de provar a existência de Cristo. No entanto, a história ignora-o completamente. Quanto aos autores profanos que pretensamente teriam escrito a seu respeito, foram nesta parte falsificados. Por outro lado, documentos históricos demonstram sua inexistência. As provas históricas merecem nosso crédito, porque pertencem à categoria dos fatos certos e positivos, e constituem testemunhos concretos e válidos de escritores de determinadas escolas.

A interpretação da Bíblia e da mitologia comparada não resiste a uma confrontação com a história. Flávio Josefo, Justo de Tiberíades, Filon de Alexandria, Tácito, Suetônio e Plínio, o Jovem, teriam feito em seus escritos, referências a Jesus Cristo. Todavia, tais escritos após serem submetidos a exames grafotécnicos, revelaram-se adulterados no todo ou em parte, para não se falar dos que foram totalmente destruídos. Além disso, as referências feitas a Crestus, Cristo ou Jesus, não são feitas exatamente a respeito do Cristo dos Cristãos.

Seria mesmo difícil estabelecer qual o Cristo seguido pelos cristãos, visto que esse era um nome comum na Galiléia e Judéia. Segundo Tácito, judeus e egípcios foram expulsos de Roma por formarem uma só e mística superstição cristã. As expulsões ocorreram duas vezes no tempo de Augusto e a terceira vez no governo de Tibério, no ano 19 desta era. Tais expulsões desmentem a existência de Jesus, porquanto, ocorreram quando ainda o nome de cristão aplicava-se a superstição judaico-egípcia, a qual se confundiu com o cristianismo.

Filon de Alexandria, apesar de ter contribuído poderosamente para a formação do cristianismo, seu testemunho é totalmente contrário à existência de Cristo. Filon havia escrito um tratado sobre o Bom Deus “Serapis”, tratado este que foi destruído. Os evangelhos cristãos se assemelham muito a ele, e os falsificadores não hesitaram em atribuir as referências como sendo feitas a Cristo.

Os historiadores mostram que essa religião nasceu em Alexandria, e não em Roma ou Jerusalém. Fazem ver que ela nasceu das idéias de Filon que, platonizando e helenizando o judaísmo, escreveu boa parte do Apocalipse. A mesma transformação que o cristianismo dera ao judaísmo ao introduzir-lhe o paganismo e a idolatria, Filon imprimira nessa crença, até então apenas terapeuta, dando-lhe feição grega, de cunho platônico. Embora tenha sido de certo modo o precursor do cristianismo, não deixou a menor prova de ter tomado conhecimento da existência de Jesus Cristo, o mago rabi, e isto é lógico porque o cristianismo só iria ser elaborado muito depois de sua morte. Bastaria o silêncio de Filon para provar estarmos diante de uma nova criação mitológica, de cunho metafísico. Entretanto, escrevendo como cristão, os lançadores do cristianismo louvaram-se nas suas idéias e escritos.

Tivesse Jesus realmente existido, jamais Filon deixaria de falar em seu nome, descreveria certamente sua vida miraculosa. Filon relata os principais acontecimentos de seu tempo, do judaísmo e de outras crenças, não mencionando, porém, nada sobre Jesus. Cita Pôncio Pilatos e sua atuação como Procurador da Judéia, mas não se refere ao julgamento de Jesus a que ele teria presidido. Fala igualmente dos essênios e de sua doutrina comuna dizendo tratar-se de uma seita judia, com mosteiro à margem do Jordão, perto de Jerusalém. Quando no reinado de Calígula esteve em Roma defendendo os judeus, relata diversos acontecimentos da Palestina, mas não menciona nada a respeito de Jesus, seus feitos ou sua sorte e destino.

Filon, que foi um dos judeus mais ilustres de seu tempo, e sempre esteve em dia com os acontecimentos, jamais omitiria qualquer notícia acerca de Jesus, cuja existência, se fosse verdadeira, teria abalado o mundo de então. Impossível admitir-se tal hipótese, portanto. Por isso é que M. Dide fez ver que, diante do silêncio de homens extraordinários como Filon, os acontecimentos narrados pelos evangelistas não passam de pura fantasia religiosa. Seu silêncio é a sentença de morte da existência de Jesus. O mesmo silêncio se estende aos apóstolos, assinala Emílio Bossi. Evidencia que tudo quanto está contido nos Evangelhos refere-se a personalidades irreais, ideais, sobrenaturais de inexistentes taumaturgos.

O silêncio de Filon e de outros se estende não apenas a Jesus, mas também aos seus pretensos apóstolos, a José, a Maria, seus filhos e toda a sua família. Flávio Josefo, tendo nascido no ano 37, e escrevendo até 93 sobre judaísmo, cristianismo terapeuta, messias e Cristos, nada disse a respeito de Jesus Cristo. Justo de Tiberíades, igualmente não fala em Jesus Cristo, conquanto houvesse escrito uma história dos judeus, indo de Moisés ao ano 50. Ernest Renan, em sua obra “Vie de Jesus”, apesar de ter tentado biografar Jesus, reconhece o pesado silêncio que fizeram cair sobre o pretenso herói do cristianismo. Os Gregos, os romanos e os hindus dos séculos I e II jamais ouviram falar na existência física de Jesus Cristo.

Nenhum dos historiadores ou escritores, judeus ou romanos, os quais viveram ao tempo em que pretensamente teria vivido Jesus, ocupou-se dele expressamente. Nenhum dedicou-lhe atenção. Todos foram omissos quanto a qualquer movimento religioso ocorrido na Judéia, chefiado por Jesus. A história não só contesta a tudo o que vem nos Evangelhos, como prova que os documentos em que a Igreja se baseou para formar o cristianismo foram todos inventados ou falsificados no todo ou parte, para esse fim.

A Igreja sempre dispôs de uma equipe de falsários, os quais dedicaram-se afanosamente a adulterar e falsificar os documentos antigos com o fim de pô-los de acordo com os seus cânones. O piedoso e culto bispo de Cesaréia, Eusébio, como muitos outros tonsurados, receberam ordens papais para realizar modificações em importantes papéis da época, adulterando-os e emendando-os segundo suas conveniências. Graças a esses criminosos arranjos, a Igreja terminaria autenticando impunemente sua novela religiosa sobre Jesus Cristo, sua família, seus discípulos e o seu tempo. 

Conan Doyle imortalizou o seu personagem, Sherlock Holmes, assim como Goethe ao seu Werther. Deram-lhes vida e movimento como se fossem pessoas reais, de carne e ossos. Muitos outros escritores imortalizaram-se também através de suas obras, contudo, sempre ficou patente serem elas pura ficção, sem qualquer elo que as ligue com a vida real. Produzem um trabalho honesto e honrado aqueles que assim procedem, ao contrário daqueles que deturpam os trabalhos assinados por eminentes escritores, com o objetivo premeditado de iludir a boa fé do próximo. E procedimento que, além de criminoso, revela a incapacidade intelectual daqueles que precisam se valer de tais meios para alcançar seus escusos objetivos.

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